terça-feira, 31 de agosto de 2021

Apoiadora do Bolsonaro, Igreja Universal do Reino de Deus recebeu mais de R$ 72 milhões de 'faraó' das criptomoedas, que já foi pastor da denominação

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Incluída na lista das 27 empresas e pessoas físicas que receberam quantias mais vultosas da GAS Consultoria Bitcoin e de seu dono, o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos — preso na semana passada acusado num esquema de pirâmide financeira com criptomoedas —, a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) entrou com uma ação judicial para antecipar provas, temendo ser "envolvida em crimes que não praticou, pelo simples fato de ter recebido, de boa-fé", doações. Segundo levantamento da Receita Federal, as transferências do acusado à Iurd foram de aproximadamente R$ 29 milhões entre 2018 e 2020. A igreja, porém, confirma ter recebido valores ainda mais altos, de R$ 72,3 milhões, entre 4 de maio de 2020 a 12 de julho de 2021.


Assinado por 50 advogados, o documento foi endereçado à Vara Cível de Cabo Frio dois dias após a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) deflagrarem a Operação Kryptos, que levou Glaidson à cadeia. De acordo com a igreja, o ex-garçom — que já foi pastor da entidade — colaborava, assim como os demais fiéis, "com o sustento do templo" de Cabo Frio, na Região dos Lagos, onde ele frequentava os cultos.


O advogado da Universal Antônio Sérgio de Moraes Pitombo confirmou ao GLOBO que existe a ação na Justiça contra Glaidson. Mas, no entanto, não poderia dar mais detalhes, porque ela corre sob sigilo.


— Essa ação foi movida em sigilo e distribuída no sistema em sigilo. Eu não posso comentar uma medida judicial que eu mesmo pedi o sigilo. A Igreja já deu uma nota para prestar os esclarecimentos — limitou-se Pitombo.


Na nota, que pode ser lida na íntegra no fim da reportagem, a Iurd afirma que "quanto a Glaidson Acácio dos Santos, informamos que ele ingressou no treinamento pastoral da Universal em 2003 e foi desligado pouco depois por não atender aos padrões do ministério. Há alguns meses, a Igreja recebeu informações de que ele estaria assediando e recrutando fiéis e integrantes do corpo eclesiástico para participar de sua empresa, que demonstrava sinais que caracterizavam algum envolvimento com pirâmide financeira."



Segundo a Universal, no entanto, a partir de maio de 2020  foi verificado um expressivo aumento no volume de doações recebidas por meio de transferências bancárias realizadas por Glaidson e pela GAS. A ação da igreja afirma que, questionado pela liderança local sobre as doações, o ex-garçom respondeu que passava por "fase de grande prosperidade econômica, a partir das atividades desenvolvidas nas áreas de tecnologia e produção de softwares".


"Apesar da aparente justificativa, os valores das operações passaram a chamar muita atenção: nos últimos 14 meses, Glaidson efetuou transferências da ordem de R$ 12.813.000,00, enquanto a empresa G.A.S. doou R$ 59.490.000,00", diz o documento, que apresentou uma planilha com as datas e valores de todas as transações.


Segundo os dados apresentados, foram 43 transferências para contas correntes da igreja, e outras 38 operações por meio de cartão de crédito. Sobre esses valores, a ação da Universal pede, em tutela de urgência, para que Glaidson apresente os comprovantes das transferências e depósitos realizados, demonstrando a origem lícita dos valores doados em no máximo cinco dias.


O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) confiirmou que a defesa da Igreja Universal entrou com o pedido. Segundo o TJRJ, o processo foi distribuído e, atualmente, está na 1ª Vara Cível de Cabo Frio. Luciana Cesário de Mello Novais será a juíza responsável por analisar o pedido da igreja.


Segundo a Iurd, antes de apresentar a ação de de produção antecipada de provas, um pastor da Universal procurou Glaidson cobrando explicações.


"Em razão do exorbitante valor — que foge totalmente ao padrão de doações dos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus —, o bispo Jadson Santos, líder da Igreja Universal do Reino de Deus no estado do Rio de Janeiro, procurou Glaidson, cobrando informações, na tentativa de entender a real motivação de tal modo de proceder", diz uma parte da ação.


A Iurd diz ainda que o acusado se desligou da instituição religiosa e deixou de frequentar os cultos, "sem apresentar nenhuma explicação". A partir de então, a Universal afirma que passou a buscar informações e “descobriu que a GAS tem sede no mesmo endereço da empresa NS Psicologia, controlada pelo ex-pastor Nei Carlos dos Santos”, que, segundo a igreja, é investigado em um inquérito policial que tramita no Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor)da Polícia Civil de Brasília. O pedido de instauração do inquérito, por parte dos advogados da igreja, data de 13 de julho de 2021.





A entidade afirma que o “referido inquérito foi instaurado a partir de notícia de crime ofertada pela Igreja Universal do Reino de Deus, a fim de apurar possíveis ilícitos cometidos por antigos integrantes, que vitimaram não só a instituição, mas também fiéis”.


Além dessa coincidência de endereços, a igreja afirma na ação que foi possível constatar que Glaidson ofertaria investimentos em criptomoedas, "por meio de mecanismos que se aproximariam das chamadas 'pirâmides financeiras'”, conforme revelavam matérias jornalísticas recentes.


Para a Polícia Federal, Glaidson — que transferiu milhões de reais para dezenas de contas — inclusive para a Universal, teria praticado crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, tendo em vista o caráter atípico dos negócios, como doações feitas em valores muito altos, mediante transferência bancária ou cartão de crédito, de forma fragmentada, sem comunicação prévia, incompatível com o padrão de doações realizadas à instituição religiosa e às atividades desenvolvidas pelos doadores.









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